quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Amores itamaratecos

Pois é, tive minha identidade revelada nos comentários pelo Philos (futuro caléga de Merré), mas ele levantou uma questão interessante: quem entra numa carreira onde nunca se para em lugar nenhum consegue namorar, casar, manter um relacionamento?
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Bem, fica difícil dar uma resposta definitiva porque eu ainda estou do lado de fora. E ainda precisaria de uns bons anos lá dentro para ver como as coisas acontecem. Mas várias vezes eu pensei se o Itamaraty não pode ser uma cilada para uma mulher, já que ela correrá o mundo e nem sempre consegue um companheiro que a acompanhe. Ou ele precisa ter uma profissão maleável e que permita mudanças, ou será sustentado por ela ou por uma herança de uma tia solteirona. Para o homem é mais fácil, já que é comum uma mulher não trabalhar e se dedicar à família. Mas ainda assim ele precisa encontrar alguém que esteja disposta também a morar uma hora na Tanzânia, outra hora em Londres, depois em Taiwan. E se tiverem filhos, ela ainda precisa ajudar os pimpolhinhos a não enlouquecer nessa vida maluca dos pais.
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Quando disse a um amigo que tinha passado no concurso, ele já foi logo falando: "É, mas você sabe que pode ficar solteirona, né?". Portanto, as opções são mesmo mais limitadas para os merréicos: se diplomatas, podem ter a sorte de encontrar um companheiro no Itamaraty mesmo, porque terão que viajar de qualquer maneira; os ofchans procuram um merréico respectivo ou podem optar por não pedir remoção e ficar por Brasília mesmo, ainda que seja ruim para a carreira. Ou então todo mundo fica pra titia.
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As opções são ainda mais escassas porque talvez o MRE não seja o melhor lugar pra procurar namorado, marido, peguete. Ah, talvez para os rapazes mais bonitinhos e arrumadinhos que agradem aos seus chefes.
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É por isso que o Merré não é pra qualquer um. Além de ter formiga no rabo pra viajar, você precisa saber do risco de acabar sozinho num apartamento em Bancoc no Natal bebendo e chorando. Ou se preparar para virar uma autêntica maria-passaporte e descobrir um diplomata solteiro que goste de mulher. E as duas coisas num homem só, diz a lenda, é coisa rara.
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O homem pode acabar com várias ex-mulheres e um monte de filhos espalhados pelo mundo, se não procurar alguém que aguente o ritmo. Ou pode curtir justamente isso (tirando os filhos).
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A propósito, parece-me que o MRE é bastante tranquilo em relação a casais homossexuais, mas tudo o que pode fazer é expedir um visto de serviço para o companheiro (a). São os "serviçais do amor" (cafooona, mas a expressão não é minha). Tem gente que acha degradante, mas segundo as leis do nosso país essa pessoa não pode ter direitos de esposo (a), então o Itamaraty se vira como pode.
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Estou acostumada com as mulheres solteironas de serviço público, pois elas já são numerosas aqui na Secretaria (onde as pessoas nem precisam ir pro exterior). Correm histórias de velhinhas virgens aos 70 anos, e quando entrei aqui já foram me falando para eu me casar logo porque senão a maldição iria me pegar. Há algum tempo atrás o gabinete do secretário só aceitava funcionárias solteiras e sem filhos para se dedicar totalmente ao trabalho, e agora existem muitas dessas por lá que não se aposentam porque ficariam sozinhas em casa.
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Eu resolvi meu problema por enquanto. O meu namorado é diplomata wannabe e também quer zanzar pelo mundo. Portanto, eu já estou criando o meu futuro chefe, que vai jogar todo o trabalho nas costas do Assistente de Chancelaria e vai passear comigo pelas belezas de Uagadugu.
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ps: aliás, é aniversário do meu lindo. Parabéns, Lu. Te amo muito! E vê se passa logo na porr... - digo - nesse concurso porque tô precisando muito de um chefe chique e discreto que me dê um monte de regalias.
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3 comentários:

Unknown disse...

Ora... Você linda, inteligente, divertida... Mesmo que não tivesse o seu respectivo (só para usar o termo favorito da Carolina), não teria problemas em lugar algum!

Ogro

annie disse...

aaaaaaaah mas se voce vai seguir a vida com um diplomata seus problemas se acabaram-se.

essa semana conheci a casa do 'ministro' aqui em taipei ... em 7 meses aqui nunca tinha visto uma casa na cidade, espaço aqui é coisa rara entao predios empilhados rendem mais do que casas. ate que fui pras montanhas (sim, tipo HOLLYWOOD sabe, os ricos e as mansoes ficam la, eu nao sabia). e é lá que o tal diplomata fica tambem. casa, 4 andares, quadra de esporte, piscina, jardim.

aaaaaah se for esse seu destino pode se preparar pra comprar todas as coleçoes do melhor do cinema moda cult e assistir sentada no seu banquinho da audrey.

dinheiro assim corrompe qualquer um, ahahahaha.

Jamile disse...

Nossa, que chique! Diprô pode ter coleção inteira do Bergman. Ofchan compra O Último Imperador encalhado nas Americanas. Ou aqueles DVD's com dois filmes do Steven Segall em um só.