sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sobre as remoções ao exterior

Vamos parar com o mimimi, porque tem gente que está acompanhando esse blog pra saber mais sobre o Merré, os oficiais de chancelaria e os diplomatas.
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Pois bem, eu ainda nem comecei a trabalhar e já tô arrotando conhecimento. Mas o Curso de Formação de 2 semanas em Brasília com diplôs simpáticos e outros nem tanto me deu uma idéia de como algumas coisas funcionam. Além do contato com os futuros calégas que sabem tudo sobre a carreira e estão ansiosos esperando pela posse à base de sal e água em Brasília porque se mudaram de mala e cuia e o MPOG não autoriza a nomeação nem com macumba. MPOG feio! Aposto que os novos diplomatas já compraram seus caderninhos do ursinho Pooh e da Moranguinho porque as aulas já vão começar. Já os oficiais de chancelaria, que fizeram concurso em fevereiro... é pra se acostumarem desde cedo que ofchan só de fode quando tem diplô por perto. Afe!
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Pois bem, eu pretendia falar aqui das remoções para o exterior. Afinal, quem entra no MRE pensa em quê?
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a) Servir a Pátria?
b) Ganhar um bom salário e estabilidade?
c) Viajar móoooooiiinnto às custas do Estado?
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É claro que a alternativa correta é a C! Afinal, se quer sofrer pela Pátria é só entrar no exército. Se quiser um bom salário, procure uma carreira no Judiciário. Mas se você não curte um masoquismo nem bofes escândalo de uniforme e tem medo de enlouquecer enumerando páginas de processos pelo resto da vida na mesma sala, mesma mesa e com mesmos calégas, aqui pode ser o seu lugar.
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E a primeira coisa que o canditado a ofchan ou diplomata pensa é a remoção dos sonhos: o lugar para onde poderá se mudar depois de 2 anos de escravid..., ops, serviço em Brasília. Primeiro porque morar fora é uma experiência e tanto. E o salário é maior e em dólar, além do Merré cobrir o aluguel (total ou parcial, dependendo do Posto).
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Os países onde o Brasil tem escritórios, embaixadas e consulados dividem-se em postos A,B,C e D.
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Os Postos A são tudo de bom: Paris, New York, Londres... aqueles cenários perfeitos para ser um senhor embaixador e dar festas com cascatas de ferrero rocher. Mas, meus queridos... eles são concorridos, o trabalho é árduo (imagine cuidar de pepino de brasileiro em NY), você tem que contribuir com o aluguel da sua moradia e o salário nem sempre dá pra ter vida de rei (mas a gente pode fazer uma festa de ofchan com tortuguitas de chocolate). Vale mesmo para curtir, fazer turismo no fim de semana pela Europa e estocar cosméticos que são o olho da cara no Brasil. Mas nem sempre dá pra fazer um pé de meia pra dar entrada numa kit de 30m² em Candango City.
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Os postos B são legais, mas menos concorridos. Tóquio (que era posto C), Praga (ah, todo mundo sonha com Praga!). Lugares onde o salário rende mais (exceto Tóquio... uma fria, a não ser que você curta anime e sonhe em morar no Japão) e talvez você não precise desembolsar o aluguel.
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Postos C nem sempre são lugares ruins. Às vezes são cidades de terceiro mundo, mas não diferentes de boas cidades no Brasil. Talvez lugares até muito legais, mas sobre os quais nunca ouvimos falar (Malásia e cia., Leste Europeu, etc). Pra ser sincera são os postos que mais me atraem, porque eu fiz Antropologia e sou meio doidinha. E sou da opinião que Paris e New York a gente conhece nas férias, mesmo. E se fôr no Leste Europeu, pega um trem nos fins de semana e se esbalda nos países vizinhos, Creuza! O salário é maior, pagam todo o aluguel e dá pra fazer um bom pé de meia. E se não me engano o tempo para promoções conta em dobro.
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Já os Postos D... são aqueles lugares onde você vai se tiver disposição para pegar malária, disenteria e diarréias com a água local (se tiver sorte... geralmente você é obrigado a manejar armas para se defender, a dormir com coletes a prova de balas e a manter a disposição física para correr - muito, geralmente até o país vizinho - quando necessário). Ou quiser escrever uma tese sobre alguma tribo perdida na África Setentrional. Mentira... nem todos os países são assim, mas a maior parte deles. Geralmente os melhores receberam essa classificação porque são distantes, ou não têm nada para fazer além de abanar o diplomata com um leque de plumas de pássaros raros locais (se você for um pobre ofchan), matar moscas e jogar cartas. Pouca gente se aventura por lá, então você terá um ou dois calégas e mais ninguém. Se um deles enlouquecer com algum feitiço da tribo mais próxima e o outro ficar depressivo depois que a mulher o abandonar, quem sofrerá será você. Mas o tempo para promoção é contado em triplo, tem os melhores salários (e nada para comprar além de vegetais e água mineral), passagens aéreas para o Brasil de tempos em tempos para desensandecer e o tempo de permanência é de "apenas" 2 anos. Pra ter uma ideia, o salário de um ofchan em Brazzavile, Congo, é de quase 9 mil doletas!!! Como diria um dos nossos amigos do Curso de Formação: "Eu vou comprar um castelo no Congo e enchê-lo de escraaaavos!" (dizia isso com os olhos brilhando com cifrões e um sorriso maligno de sinhô Leôncio). Mas antes aconselho uma pesquisada básica no Google sobre a condição desses países, principalmente detalhes sobre possíveis guerras civis.
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Dica: Nesse blog aqui um ofchan relata o seu dia a dia num posto D, em Cabo Verde. Vale a visita.
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Bem, eu não posso dizer qual a minha remoção dos sonhos. Só garanto que não é Posto A ou B. Um dia quero ir pra NY, eu adoro essa cidade. Mas antes quero juntar uma grana e comprar meu apêzinho, porque ofchan precisa voltar pro Brasil de vez em quando. E fica aqui mais alguns anos antes de um novo ciclo de remoções.
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A propósito... há algum tempo perguntaram na comunidade do Orkut Coisas da Diplomacia se era possível um diplomata trabalhar em São Paulo, pois a criatura que perguntava isso achava que "Brasília deve ser um lugar muito estranho!". Ei... acorda!! Meu filho, se tu acha que Brasília é estranha, quer ser diplomata pra quê? Pra entrar no Merré não adianta só sonhar com Sampa e Postos A. Um dia você vai acabar em Uagadugu... e aí vai ter um choque de realidade.
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Futuros calégas de Merré, sejam flexíveis. E encarem Brasília como seu primeiro Posto no exterior. É aí que começa a festa, a mudança, a adaptação à cidade. Sei que o planalto central é Posto F e tem o menor salário de todos (e, quiçá, o maior custo de vida), mas tem lá suas vantagens. Lembrem-se que repetirão esse processo várias vezes, mas no futuro será em lugares onde o calor é insuportável ou onde se neva metade do ano, e ninguém fala a sua língua.
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4 comentários:

annie disse...

mamaequeroserofchan !!!! e quando eu for, postos C que me aguardem !!!! eu ja moro num e digo que é a melhor experiencia de vida que voce pode ter ... o calor é insuportável e nao falam a minha lingua, mas nao troco isso por nenhum americanoide.
e fora tudo o que voce falou, voce ainda ganha 2 meses de ferias por ano pra viajar moooooooooiiinto !!!! :)
beijos futura calega !!!

Fernando Martins disse...

Concordo em genero, numero e grau!

"E sou da opinião que Paris e New York a gente conhece nas férias, mesmo."

"E encarem Brasília como seu primeiro Posto no exterior."

Zilmar Pires Cardoso disse...

Eu ja moro fora do pais ha 3 anos, trabalhando para uma multinacional brasileira...
Olha, eh bacana estar representando teu pais no estrangeiro, mas nao eh facil ficar longe do Brasil..

Eu ainda penso fazer concurso para Ofchan, pois sei que minha carga de trabalho nao permite estudar para o IRB...

abraco
Zilmar

Philos disse...

Bom resumo "ofchan for dummies" Jamile, parabéns! hehe

Eu não especulo ainda sobre remoções, afinal, daqui a 2 anos posso estar enrabichado por uma moça que não curta muito a idéia de passar 2 anos no Congo (apesar de outros predicados que compensem tolher meu lado aventureiro :-D )