terça-feira, 11 de agosto de 2009

Filosofia para eternos iniciantes

Não contei pra vocês porque parece loucura. Mas eu tenho um poodle toy que lê Kant em alemão arcaico quando não estou em casa. Aquele ar de superioridade que só quem entende Kant possui não me engana. Tenho medo de chegar em casa um dia e encontrar um bilhetinho:

"A sua biblioteca está bastante defasada. Por favor, tenha dó daqueles que passam o dia inteiro dentro de casa. E não venha com coleção 'Os Pensadores' de sebo, pois isso é coisa de amadores.

ps: a edição bilíngue de Spinoza é mais cara, mas eu não abro mão. Deixe de ser mão de vaca!"


Percebi o desprezo dele pelo meu namorado filósofo. Mas o cãozinho faz amizade até com nitzscheano se este lhe fizer carinho no peitinho e trouxer um bifinho.


Acontece que eu tenho a sensação de que Filosofia não é pra mim. Uma coisa que queria muito entender, mas tenho medo de tentar encarar e não ter capacidade. Há muitos anos, quando ainda tinha ICQ (nascidos nos anos 90 estão rindo de mim), um rapaz da minha lista disse um dia que tinha abandonado a religião e agora procurava respostas na Filosofia. "E o que você está lendo?", perguntei. "Ah... eu comecei anteontem 'O Mundo de Sofia'." Puta que pariu, né! Eu li O Mundo de Sofia na adolescência também, mas não digo isso pra todo mundo. Aliás, quem não leu nos anos 90? (nascidos nos anos 90 estão gargalhando de mim. E eu rio deles, que acham que NX Zero é rock). Eu fiquei com medo de me meter a entender filosofia e acabar macaqueando conhecimento feito esse babaca.

O problema é que com pet e namorado filósofos eu tendo a passar vergonha ou a ficar acanhada ao dar qualquer pitaco. Então decidi rever o que sei sobre Filosofia e avançar um pouco mais.

Primeiro aprendi a escrever Schopenhauer. Porque tem gente que diz que lê Schopenhauer mas assassina o nome do coitado, néam (mode venenosa on). Como diz uma amiga minha... imagine se lesse Burckhardt (mode venenosa off).

Mas depois que passar por esse estágio, é hora de aprender a escrever... NIETZSCHE. Caraca, essa é difícil. Até hoje eu uso o google. Sei que na segunda parte é só jogar todas as consoantes que quiser, mas elas precisam vir numa ordem: T-Z-S-C-H. Parece aquele som de quem limpa os dentes com a língua, ui. Eu até perdoo (sem acento, argh) quem lê e compreende NIETZSCHE e não consegue escrever NIETZSCHE (perceberam que tô treinando, né?). O chato é que há tanto trabalho na hora de escrever e pronunciamos um singelo "Niti". Pobreza... eu esperava pelo menos engasgar com um nome pomposo desses, como o Grande Ditador do Chaplin.

Mas eu conheço NIETZSCHE desde criança, sabiam? Porque venho de uma família religiosa, e nós aprendemos desde cedo que NIETZSCHE foi aquele amaldiçoado que disse que Deus estava morto. E - prestem atenção, crianças! - terminou seus dias louco e preso numa jaula!!! Um ensinamento bem no estilo:




Alguém aí perguntou se eles sabem em que contexto NIETZSCHE escreveu isso, e se ele quis mesmo matar Deus? Alguém sabe qual foi a frase anterior e a posterior dessa máxima? Não, é claro. Porque assim a lição não seria tão assustadora e no futuro essas crianças religiosas poderiam ousar ler NIETZSCHE. Quem escreveu um livro chamado "O Anticristo" só pode ser... o anticristo!

Com esses antecedentes, como poderia me arriscar cedo pela Filosofia? Só agora mesmo que estou desviada da senda reta e vou queimar no mármore do inferno posso pensar nisso.

Agora me deem (sem acento, argh) licença porque preciso procurar a tal edição bilíngue pra não levar mordida depois.

.
.

Um comentário:

Camila Scarpati disse...

Falando em cachorrinhos, minha maiga tem um cachorro chamado "Niti".
Com a grafia assim mesmo, porque ela ficou com medo de vez ou outra escrever o nome do rebento errado e passar por mãe desnaturada...