quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Desventuras públicas em série: a recepção

Não, eles não receberão você de braços abertos para ajudá-los em suas tarefas árduas. Aliás, a impressão que passam é a de que não há motivo para o governo empregar ainda mais gente: "Mais um pra ficar aqui de braços cruzados?"
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Entenda: agora você é um dalit!




Nosso mascote!

Os comentários podem até mesmo ser mal-educados:
1) Se você tem curso superior e tomou posse de um cargo de nível médio, provavelmente ouvirá (como eu ouvi): "Mas você fez faculdade! O que está fazendo aqui? Devia procurar alguma coisa lá fora primeiro, e depois vir pra cá se não tiver mais nada!".
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Acontece, filhinho, que lá fora NÃO HÁ OPÇÃO! Você está aqui encostado há 30 anos e já perdeu a noção do mundo. E faculdade hoje em dia não garante emprego de ninguém. Com os Prounis da vida, todo mundo faz faculdade.


2) Se você tem uma vasta experiência profissional: "Mas se você fez tudo isso, por quê largou pra vir pra cá?"

Nem sempre nós largamos. Às vezes nos largam, hehe. Aí fazemos o que aparecer para continuar vivendo, inclusive concursos públicos. E também há aqueles que preferem ganhar menos e ter estabilidade, um trabalho menos estressante. De qualquer forma, seus motivos para estar ali são problema seu e de mais ninguém!


3) Se você é muito jovem: "Ih, se prepare para ficar aqui até os 70 anos...".

Animador demais quando você só está tapando um buraco da sua vida e não pretende ficar por lá. Porém, você tem possibilidades de sair, passar num concurso melhor ou até mesmo conseguir um cargo em comissão ou de confiança por lá. Quem diz isso não conseguiu nada disso, continua na mesma mesa fazendo a mesma função de merda e já torce desde já para que você termine como ele.



E tenha em mente a regra de ouro do funcionalismo público:
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"Quem chegar por último é a mulher do padre!"


Tradução: Não importa o seu currículo; se você fala inglês, francês e javanês e já foi alto executivo de uma puta multinacional. Você vai começar fazendo os piores trabalhos da repartição. Os antigos têm um prazer abertamente sádico nisso: é a única diversão para suas vidinhas desgraçadas. Tudo aquilo que eles odeiam eles jogarão pra você: numerar páginas de processo, tirar xérox de 400 páginas de uma vez, levar documentos para outras seções, fazer café. Alguns rirão pelas suas costas, outros na tua cara mesmo.


Ainda há a possibilidade de você ser ignorado totalmente. Eles simplesmente não te ensinam nem a ligar a máquina de xérox e você passa 8 horas por dia olhando pro teto durante um ou dois meses até que eles resolvam te ensinar algo porque um caléga vai entrar de férias e precisa ser substituído. Alguns deles ainda te olharão feio porque você não faz nada pra ajudar (!). E quando te ensinarem o serviço, ensinarão errado pra você fazer merda no começo e eles se divertirem um bocado depois de te darem uma bronca.

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Existe solução pra isso?


Sim, mas dependem da tua sorte:


a) Cair numa seção com pessoas legais. Acontece, mas não sonhe muito alto.


b) Ter um padrinho foda no mesmo órgão. Nesse caso, eles farão tudo mais sutilmente pra te prejudicar.


c) Unir-se aos neófitos que entraram no mesmo concurso que você: porque em breve vocês já estarão mais à vontade lá dentro e um ajudará o outro. Isso é importantíssimo! É uma solução a longo prazo.


d) Esperar outro funcionário novo entrar na sua seção. Foi o que me salvou. Então todas as tarefas de nojentas que me davam foram passadas para ele.
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Deve ter alguma vantagem nessa história toda. Mas na boa... agora não estou lembrando. Só que essa é uma série de desventuras, então falarei dos podres. Não digo que ninguém presta: fiz bons amigos, aprendi muita coisa a respeito da natureza humana e às vezes temos surpresas boas como uma proposta de cargo.
Só não vale ter espírito de escravo de Brás Cubas e castigar novos servidores quando você já tiver algum tempo de casa. Isso é coisa de gente infeliz.
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2 comentários:

Marcela disse...

Credo!!! oO Não quero ser dalit. Medo da futura vida de servidora pública... Será que no Merré é assim também? =S

Jamile disse...

Olha, vamos esperar os calégas recém-empossados contarem... mas nossa casta vai depender da boa vontade dos diplomatas que nos cercarão, não?