sábado, 18 de julho de 2009

Hare baba é a vovozinha!

Não assisto a novela das oito, não tenho vontade de conhecer a Índia e não conheço nenhum indiano. Sei que uma típica antropóloga tem a cabeça aberta, adora uma roupinha indiana e acha toda cultura diferente a coisa mais linda. Acreditem, eu já passei por essa fase.

Mas na boa... não caio nesse papinho de transformação espiritual na Índia, não.

Outro dia um indiano pediu para ser meu amigo no orkut. Um tal de "king saurav looking for his queen" (e esse nick me deu indigestão de tanta cafonisse), perguntando: "Do you want to be my true friend?" (mode mente preconceituosa on: li com "sotaque" bollywoodiano: "du iú uan tu bí mái trrrrru frrrreind?). Me chamem de grossa, de ignorante, de tudo pela minha resposta: disse que não tinha tempo para ter amigos na internet e não achava de bom tom (óia que expressão vintage) conversar com homens desconhecidos porque tinha namorado. Depois um árabe de óculos escuros e lenço na cabeça (agora esqueci o nome árabe daquilo) também "requestou" minha amizade, e minha resposta foi um seco: "Não tenho interesse. Além disso, meu namorado é ciumento".

Pareço machista pelas respostas? Acham que meu namorado me obriga a andar de cabeça baixa pela rua e me proíbe de conversar com homens para não espalhar a corrupção pela Terra? Longe disso! Olha só... já iam pensar mal do Lu, tão bonzinho! Mas eu sei bem que os homens indianos, paquistaneses, árabes e toda a galera que morre de inveja do Ocidente acham que mulher ocidental é tudo puta! E eu, com essa cara de inglesa sem sal que tenho, e nem branca sou (estou mais para fosforescente), devo parecer mais puta ainda. Pior: a branquela que eles sonham ter, mas com as quais nunca se casariam. Dispenso a amizade. Se por lá eles não costumam ter amizade com mulheres, por quê eles procurariam uma amizade "genuína" com uma branquela ocidental?

Sei que muita gente me apedrejaria por isso. Muitas mulheres têm amigos virtuais paquistaneses, indianos (agora tá na moda, e eles devem aproveitar o sucesso com a mulherada daqui), egípcios, sírios, o escambau. Eu não condeno. Cada um tem amizade com quem quer e uma das maravilhas da internet é permitir o contato entre pessoas de culturas tão diferentes. Uma consequência boa é a quebra de muitos preconceitos. Ler sobre os malvados muçulmanos na Revista Veja não é a mesma coisa que perguntar diretamente a um sobre tudo o que se diz deles por aí.

Mas mulher é bicho burro, e costuma se encantar com essas culturas. Geralmente esses homens não têm medo de compromisso sério, e elas começam logo a sonhar com seu príncipe indiano que se casará com elas e as levará para viver num palácio no Rajastão. Logo estão noivas e se mandam para o outro lado do mundo. Se casam e depois... só Deus sabe. Algumas dão sorte, se adaptam, encontram bons maridos. Outras podem ser jogadas de repente dentro de culturas machistas, conhecem uma realidade bem diferente do sonho exótico do marido estrangeiro e depois não conseguem se libertar (ou porque estão sozinhas num outro país, ou porque podem perder a guarda dos filhos, etc).

Não que eu tenha medo de me casar com um dalit fingindo ser brâmane. Mas na boa... se não entende que nem toda mulher ocidental é puta, não quero saber. Eu não quero ser puta em potencial, não. Não me encanto mais com exotismo: brimo com torneira de petróleo em casa, paki de bata amarelo-ovo, festinha de casamento colorida. Nem por isso tenho horror a essas culturas: eu estudo árabe e amo o Ibn Khaldun e o Edward Said de paixão. Tenho enorme respeito pela civilização islâmica dos séculos XII e XIII (nessa época eles já tinham universidades e a Europa era um lugar frio, pobre e cheio de gente doente e fedidinha que nunca tomava banho).

Posso acabar dando fora em muita gente legal, mas eu já tive minha cota. Portanto, se você pertence a uma casta, tem foto de camisolão e turbante e tem um nick cafona como só a galerinha do Oriente consegue bolar e gosta de muito-ouro-inshallah, não terá muito sucesso ao tentar me adicionar no orkut.

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