quarta-feira, 22 de julho de 2009

Por quê o Itamaraty?

A maior parte dos concurseiros define seus objetivos de acordo como o salário do concurso, grau de dificuldade, status. E aí, nem sempre importa o órgão ou entidade visado. Talvez distinguam entre Executivo e Judiciário, pois o Judiciário costuma pagar mais e ter um monte de regalias.


Mas quem decide ser diplomata dificilmente escolhe a carreira apenas pelo salário, que não é lá tão alto, comparado a outras carreiras públicas. Talvez pelo status. Ou por patriotismo, porque quer acabar com o conflito árabe-israelense, porque quer morar em Paris, porque quer explodir em Bagdá a serviço da ONU e virar mártir.


Enfim... o salário não compensa a dificuldade do concurso. Dizem as más línguas que é o mais difícil do Brasil. Já incluiu provas orais, e hoje em dia são provas escritas divididas em quatro fases que incluem Português, Direito, História Geral e do Brasil, Geografia, Economia, Política Internacional, Inglês, Francês e Espanhol. A bibliografia recomendada tem páginas e mais páginas de livros, só a primeira fase não é discursiva e pessoas quem tentam mais de quatro vezes costumam enlouquecer. Não é raro que os candidatos larguem tudo, voltem para a casa dos pais e fiquem estudando 8 horas ou mais todos os dias. Perdem os amigos, com o tempo nem sabem mais o que é um barzinho e descoram devido à pouca exposição à luz do sol. Tudo isso por um salário que pode ser menor do que o de um Auditor, um Fiscal, um juiz.



Canditado depois de cinco tentativas
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Então por quê essas criaturas insistem em ser diplomatas? Geralmente são pessoas que tem fogo no rabo pra viajar, gostam das matérias que caem no concurso (eu, por exemplo, prefiro enfrentar Política Internacional a um livro estilo "Informática para Concursos") e possuem um grau mínimo de insanidade.



Candidato depois de sete tentativas


No meu caso, conheci o concurso quando ainda era adolescente e lia FOVEST (complemento da Folha de São Paulo sobre vestibular) e Vestibuol. E na FOVEST tinha uma coluna que falava sobre uma profissão por semana. Certa semana o assunto foi justamente a carreira diplomática. Lá falava sobre a prova (ainda oral e ainda exigindo conhecimentos gerais - música, literatura, etc) e a carreira, é claro. Fiquei encantada. Achei que eu, a nerd da escola, tinha condições plenas de passar naquilo. Aliás, achei que aquele concurso era um dos poucos que fazia jus à minha inteligência (cof-cof-cof). É, eu era metida pra cacete. Isso geralmente acontece com os CDF's com poucos amigos que passam as férias inteiras ouvindo Chopin, lendo Dostoievski e desenhando sozinha e se achando o máximo por isso. [depois que entrei na USP vi que eu era uma amebinha no meio de tantas pessoas muito mais qualificadas... e essas eram muitas: só estavam escondidas como eu]

Depois de um tempo esqueci. Volta e meia a idéia voltava, mesmo na faculdade. Então prestava mais atenção nas aulas de política, comprava algum livro relacionado ao assunto e esquecia novamente. Afinal, eu não tenho lá muito dinheiro, e não sabia falar inglês muito bem porque não podia bancar um curso por anos a fio ou fazer intercâmbio. Deixei para pensar no concurso quando tivesse bom domínio do idioma.

Então arranjei um namorado bolha que às vezes parecia querer competir comigo. Sei lá. Só sei que ele falava inglês, francês, alemão, javanês e nheengatu. E botou na minha cabeça que o concurso era muuuuuiiito difíiiiiicil. Aí desanimei de vez.

Mas.... mas... quem quis MRE uma vez nunca vai aceitar outra coisa com tranquilidade, não é?

Ano passado descobri o concurso para Oficial de Chancelaria. E pareceu perfeito, pois era mais simples, a carreira inclui viagens internacionais e eu - que jamais teria capacidade para um concurso muuuuuuiiito difíiiiiicil - teria até chance de passar. Assim... um diplomata muito do genérico. Fiz o concurso. Passei. Ainda tomarei posse. [não estou desprezando a carreira. Ela tem vantagens em relação à carreira diplomática, certamente. Mas se o objetivo é a diplomacia, pode gerar ofchans frustrados]

Então a coceirinha do CACD voltou. Desta vez com força (e inglês melhor). E cansei de ficar estudando Informática, Contabilidade, Raciocínio Lógico, essas coisas todas chatas de concursos comuns. Eu me divirto com a bibliografia. Mesmo. Não sei se é no ano que vem, no outro, ou daqui 5 anos (quando já estarei enlouquecendo, segundo a lógica do concurso). Mas estou satisfeita em retomar um sonho tão antigo, porque eu não aceito mais nada que não seja Itamaraty. [dizem que lá não é isso tudo, que o prédio é cheio de baratas e que posso acabar morando em Brazzaville - Congo. Mas e daí? Quero ver de perto e depois reclamar com propriedade]


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Um comentário:

Fernando Martins disse...

1) Devidamente favoritado!
2)
Concordo com genero, numero e grau tudo que você escreveu. Tudo.
Por enquanto nao tenho a vontade de ser diplo, me contento com ofchan, mas estando lá dentro, quem sabe, não é mesmo?

Escolher uma carreira diplomática, seja ofchan (em menor grau) ou diplo (em maior grau), não é ir pelo maior salário ou pelo menor grau de dificuldade/candidatos x vaga.

Para mim, estar no Bloco H é o resultado de n coisas que eu sou, que eu fiz, e que eu sonho ser.

Pode parecer utópico, mas culminar jogar o foco 100% em passar nessa prova, é se sentir útil para a sociedade, é se sentir bem.

Qdo estava na preparação de ofchan, além dos n cursos q eu fiz, fiz um em conjunto com outras pessoas e todas se assustavam porque eu queria fazer só para esta carreira. Parecia que eu tinha um capacete verde limao na cabeça, parecia que eu era estranho no meio de tanta gente que estava atirando para todo lado.

Mas eu tenho foco e acima de tudo determinação.

Abs e continua escrevendo... Bem vinda ao mundo dos Blogs... eu tenho um sobre viagens, gastronomia e estilo de vida....